quinta-feira, 1 de março de 2012

À menina dos morangos

Era caminhar na chuva comendo uvas. Não, ela não estava sozinha, levava consigo uma dureza típica dos nascidos em terras quentes. Sua mãe lhe dera um nome de menina, menina no melhor sentido da palavra, menina moça, frágil, que sonha – como todas as outras – com vestido de pontas e com um desencanto. Gostava de versos simples, comia manga do pé e cuspia os caroços de melancia no quintal, esperava que nascessem cerejeiras em flor. Certa feita acordou com gosto acre na boca, abriu a cortina e lá fora o dia ensolarado chegava a cegar de tão bonito, não importava o quão triste estivesse, o céu teimava em ser azul. O contrário também podia acontecer, se o clima tivesse nublado, era alegria na certa. Nesse dia tomou uma decisão, decidiu que não mais seria a mesma e desenhou um morango na nuca. Quando tava feliz retocava os tons de verde do talo, quando não estava desbotava o vermelho. Ela queria ter os cabelos curtos pra mostrar a todo mundo quem era de verdade: uma menina e um morango. Como lhe faltava coragem, mantinha os fios longos e só mostrava a nuca aos que faziam valer. Assim era ela, não dava pra entender na primeira olhada, mas dava pra gostar mesmo sem entender. Poderia gastar linhas descrevendo essa menina que sempre me aparecia de verde e vermelho. Poderia dizer que ela guardava um segredo, mas todos guardam e se isso não a diferencia de ninguém, então, não tem sentido falar. Poderia dizer que era bonita, teimosa e que morria de amores por qualquer menino de cabelos cacheados, mas aos vinte anos todas somos assim. Poderia falar. Poderia calar. Mas, de verdade, eu só sabia que ela era uma menina que gostava das coisas simples, que contrariava o tempo e que desenhou um morango na nuca.

3 comentários:

  1. Muito lindo amiga!!Para quem conhece a "menina de verde e vermelho", a poesia fica mais bonita ainda!!!Adorei a simplicidade e beleza!!!Te amo!!!


    PS: No aguardo da poesia da "menina de bolinhas"!!!

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  2. O título me chamou aqui, pois também já escrevi sobre ela.

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  3. Que texto lindo! Conheci a menina do morango na nuca e me perguntei: como uma pessoa tatua um morango na nuca? Só depois entendi... A beleza e a poesia da tatuagem.
    Sua poesia estou conhecendo agora, mas já desconfiava do seu lirismo...

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